Manual do arquiteto descalço – Johan Van Lengen

28/11/2009

Autor holandês que desistiu de uma bem sucedida carreira como arquiteto na Califórnia para fixar residência na América Latina no ramo de moradias populares. Depois de trabalhar em várias agências governamentais, incluvise a ONU, e de ter sido professor de arquitetura solar na UNICAMP, continuou seu trabalho de desenvolvimento de tecnologias de construção e em como transmiti-lás ao usuário. Disto resultou o Manual do Arquiteto Descalço, obra considerada pelos especialistas desta área como indispensável para a compreensão e emprego de tecnologias usadas na arquitetura.

Manual do arquiteto descalço – Johan Van Lengen


Telhados verdes

28/11/2009

por Carmosa Abreu

Já bastante populares em países escandinavos, os “telhados verdes” com uma longa história também na Alemanha, aos poucos estão conquistando adeptos na América Latina, a exemplo do Mexico, onde a implantação de jardins nos telhados das edificações têm despertado interesse e aceitação.

Além do México, onde o governo estuda a criação de leis que regulamentam a “naturação” em grande escala” “os telhados verdes” começam a surgir também na Bolívia e em Cuba, onde pesquisadores buscam soluções para as condições tropicais que lhe são inerentes, em espaços urbanos densamente habitados.

Na Universidade Humboldt de Berlim, com financiamento da União Européia, foi criada uma rede de cooperação entre instituições acadêmicas envolvendo pesquisadores de universidades da Alemanha, Brasil, Espanha, Grécia, Bolívia, Cuba, México e Equador.
voltada para a pesquisa sobre o melhor tipo de vegetação a ser utilizado em cada “telhado verde” onde através de experimentos práticos os especialistas dessas universidades trocam informações constantes.

A idéia é transformar os “telhados verdes” em pequenos pulmões das grandes cidades criando corredores que facilitem a circulação atmosférica, melhore o microclima, reduza o consumo de energia, provoque um decréscimo no uso do ar condicionado em regiões quentes e isolem o frio em regiões com invernos rigorosos, já que sob um telhado coberto de vegetação, as baixas temperaturas demoram mais para chegar aos espaços internos, um problema de pouca importância para o Brasil, mas essencial para países europeus e regiões montanhosas do México e Bolívia.

Outro aspecto interessante é que nas regiões de chuva intensa, as áreas naturadas podem reter de 15% a 70% do volume de águas pluviais, prevenindo a ocorrência de enchentes.
Estudos demonstram que para uma cobertura verde leve de 100m2, cerca de 1400 litros de água de chuva deixam de ser enviados para a rede pública. Multiplique este valor pela soma de todas as coberturas de uma grande cidade e veja a contribuição para a redução desse problema.

Os telhados verdes reduzem também os efeitos danosos dos raios ultravioletas, os extremos de temperatura e os efeitos do vento, vez que nesses telhados.a temperatura não passa de 25º C contra 60º C dos telhados convencionais.

Em termos de custos os dos telhados verdes variam entre 80 e 150 dólares o m2, ou seja de um terço à metade do custo das estruturas convencionais.
Existem dois tipos de telhados verdes: os intensivos basicamente parques elevados que conseguem sustentar arbustos, árvores, passagens, bancos, etc., e os extensivos que são criados por seus benefícios ambientais mas não funcionam como jardins de cobertura acessíveis.

O telhado verde mais famoso dos EUA é o do City Hall de Chicago (na foto que ilustra esse texto), que reúne sistemas intensivos, extensivos e intermediários e os mais antigos e conhecidos do mundo são os famosos Jardins Suspensos da Babilônia.

Telhados Verdes – Carmosa Abreu

Outra reportagem sobre o mesmo assunto:

Revista Época: O Jardim subiu no telhado

por Lia Bock

Plantar jardins ou mesmo capim no teto das casas não é exatamente uma idéia moderna. Os telhados verdes existem há milhares de anos. Povos tradicionais da América Central já usavam essa técnica para criar isolamento térmico em suas casas. Na Europa, a tradição também vem do século XIX. Nos países nórdicos, colocar plantas sobre o teto era a forma de garantir o calor da casa antes da invenção dos aquecedores. Com o desenvolvimento das cidades e das tecnologias modernas de calefação, as cabanas com telhados cobertos por feno desapareceram. A antiga tecnologia verde foi considerada obsoleta. Mas, com a urgência das mudanças climáticas, os arquitetos de hoje buscam todas as formas possíveis de reduzir o consumo de energia. E o mundo está resgatando – com adaptações – os métodos ancestrais.

Na Alemanha, há bairros urbanos inteiros que voltaram a ganhar os tetos verdes. Já há mais de 1.500 empresas especializadas nesse sistema no país. Quem tem área construída e não capta água da chuva leva multa. Quem constrói um telhado verde e maneja a água que cai sobre a própria casa recebe um subsídio do governo. Os dados de 2001 mostram que o país ganhou em 20 anos 14 milhões de metros quadrados de tetos verdes. Nos Estados Unidos, existem 500 empresas especializadas em construções com telhados verdes. A Ford, em Michigan, instalou um telhado verde em toda a extensão da fábrica e tem economizado 30% de energia com refrigeração.

A primeira vantagem do sistema é que a camada de terra e de matéria orgânica viva (das plantas) funciona como isolante térmico. Em locais quentes, as plantas no telhado mantêm frescor e, em locais frios, guardam o calor. Nos países frios, a calefação é o principal gasto de energia. A vegetação no teto também regula o escoamento da água das chuvas.

Normalmente, toda a água que cai sobre os telhados normais vai direto para o sistema de drenagem público. “A água e a falta de planejamento urbano acabam causando enchentes e sobrecarregando os rios,” afirma André Soares, do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, em Goiás. A água que sai do jardim suspenso, além de regar as próprias plantas, pode ser recolhida em um reservatório e usada para descarga de banheiro e lavagem de quintal.

No Brasil, o holandês Yojan Van Legen, autor do livro Manual do Arquiteto Descalço, tem construções com telhado verde há mais de 15 anos. Ele coordena o Instituto Tibá, de tecnologia intuitiva e bioarquitetura, no Rio de Janeiro. Seus projetos estão virando objeto de estudo dos arquitetos. Soares, de Goiás, também pesquisa a técnica há dez anos. “O telhado verde é sexy. Ele ameniza a temperatura da casa, tem utilidade pública e ainda é bonito.”

Um grupo de arquitetos da empresa Triptyque está finalizando um projeto de prédio de quatro andares em São Paulo que tem não apenas o teto verde, mas as paredes também. “Nossa idéia nunca foi fazer um prédio com excelência ecológica”, diz a arquiteta Carol Bueno. “A idéia é criar um local para o bem-estar e que trabalhe as necessidades do mundo moderno. Entre elas, a escassez de água.” Segundo os arquitetos, as paredes têm fissuras com terra onde serão plantadas 5 mil mudas.

A instalação dos telhados verdes exige cuidados. Primeiro, é preciso se certificar que a estrutura da casa agüenta o peso da terra, das plantas e da água que se acumulará ali. A maioria dos tetos verdes tem apenas uma fina camada de terra e plantas de pequeno porte, como arbustos. Mas, em construções com estrutura mais forte, pode haver uma camada maior de terra e plantas maiores, como árvores e palmeiras. O teto do Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo, tem há meio século pés de café, coqueiros, eucaliptos e pau-brasil.

O ponto mais crítico é fazer uma boa impermeabilização, para que a água do solo não se infiltre no teto da casa. No Instituto Tibá, Legen usa um produto natural: sumo de cactos. “Nossa técnica é baseada na dos astecas, mas nós misturamos cimento ou cal”, afirma. Por cima, ele coloca uma camada de areia e depois alguns centímetros de terra. “Quando encontram a areia, as raízes param de crescer.”

A empresa paulista Cidade Jardim, inaugurada no ano passado, usa técnicas mais modernas. “Para impermeabilizar, colocamos uma camada de polipropileno de alta densidade”, diz o agrônomo Sérgio Rocha, dono da empresa. “Com isso, garantimos o sossego de que a água não causará infiltração.” Ele adotou um sistema alemão para que parte da água fique acumulada em pequenas valas da estrutura, servindo de irrigação para as plantas. O sistema não é barato. O gasto para substituir telhas por uma laje devidamente impermeabilizada fica em torno de R$ 150 por metro quadrado. Por isso, Rocha diz que as prefeituras deviam estimular o sistema. Afinal, elas reduzem os riscos de enchentes.

Os telhados verdes têm benefícios adicionais. Ao crescer, as plantas absorvem do ar o gás carbônico, principal responsável pelo aquecimento global (é o que se chama de “seqüestro de carbono”). A vegetação também filtra o ar poluído das cidades. E a superfície com plantas absorve menos calor do sol que os tetos de cimento ou telhas. Uma área urbana bem arborizada pode ficar até 3 graus centígrados mais fresca que uma região com cimento e asfalto. Os novos jardins suspensos ainda ajudam a preservação da fauna. “Com a criação desses hábitats, os animais das regiões verdes no entorno das cidades começam a interagir com os bairros outra vez”, afirma Marina Portolano, ecóloga do Tibá. “Os telhados com plantas podem até servir de local para pouso de aves migratórias, que em outra situação não teriam onde descansar.”

O jardim subiu no telhado – Revista Época


A agricultura urbana está crescendo…

23/11/2009

Com mais de trinta anos de experiência em planejamento e implementação de projetos e programas de desenvolvimento agrícola sustentável na América Latina, Ásia e África, Henk de Zeeuw não é só o diretor da Fundação  RUAF, mas também uma voz autorizada no campo da agricultura urbana. Durante sua visita a Lima como coordenador global do Programa Cidades Cultivando para o Futuro, tivemos oportunidade de conversar com ele sobre o tema.

Como foi que se envolveu com a difusão da agricultura urbana?

Eu era assessor em desenvolvimento rural e na minha experiência, pude ver muitas coisas com as quais não concordava. Por exemplo. na Zâmbia, as províncias pobres que produzem alimentos se encontram muito longe das cidades maiores. Por isso, o milho devia viajar 500 km até a cidade, mas ao chegar, queimavam o milho por pensar que estava contaminado com malária, quando investigações posteriores provavam que não era verdade. Ou seja, a população produzia milho para comer, gastava-se muito com transporte, e o governo não só estava queimando o milho, como também proibia que se plantasse dentro da cidade.  Isso demonstra a importância de que os governos revisem cuidadosamente suas leis e normas para determinar quando é realmente necessário restringir a agricultura urbana, em lugar de ajudar os agricultores e prevenir problemas.

Por quais outras razões as pessoas e governos deviam começar a praticar a agricultura urbana?

Há muitas razões e argumentos para se colocar a agricultura urbana em prática. Há muitas pessoas que vivem famintas nas cidades. A agricultura urbana podia ajudar a aliviar a fome e a pobreza urbana crescente, ao gerar renda. Nas cidades, também existem muitos idosos ou jovens desempregados, ou sem capacitação, que poderiam encontrar na agricultura urbana uma maneira de ganhar a vida.  Por outro lado, as cidades crescem mais e mais, mas muitas só crescem em edifícios quando o que necessitamos é de um ambiente vivo, onde haja verde e que seja parte delas. A agricultura urbana também pode ajudar a manter essas áreas verdes. Obviamente, cada cidade é diferente e terá suas próprias razões  para manter a atividade.

Na sua experiência, porque as práticas de agricultura urbana são tão diferentes ao redor do mundo?

O tipo de agricultura urbana depende bastante da situação local e inclusive dentro de uma mesma cidade pode ser bastante diferente. Por exemplo, na Holanda, que é um país pequeno, toda a agricultura poderia ser chamada urbana, porque se pratica a no máximo 40-50 km das cidades. Porém, numa mesma área temos diferentes tipos de agricultura urbana, com diferentes funções: recreação, produção de alimentos, armazenamento de água, para aproximação com a natureza e para preservar a paisagem. Em outras cidades, como em Villa María del Triunfo, boas terras são escassas, e sem dúvida, as pessoas trabalham-nos e os melhoram para poder produzir alimentos. Realmente é uma atividade que varia muito.

Qual será o futuro da agricultura urbana em um mundo onde o solo e a água tendem a ser tornar cada vez mais escassos?

É interessante, porque durante muito tempo se pensou que pelo fato de as cidades continuarem crescendo, a agricultura desapareceria. Agora sabemos, depois de 200 anos de estudos, que mesmo que as cidades cresçam, a agricultura urbana permanece. Poderá mudar de forma, mas na realidade está crescendo em lugar de desaparecer. É uma atividade necessária para prover lazer, proporcionar alimentos, gerar renda, melhorar a qualidade do ar e para levar o verde para as cidades.

Qual a sua opinião sobre o trabalho do RUAF?

O que se tem feito, por meio do trabalho com diferentes organizações, cidades e municípios, é deixar claro qual a importância da agricultura urbana e como podem incluí-la nos seus programas. Agora há mais cidades onde existem políticas para promover a atividade, sendo que os políticos têm demonstrado grande interesse no tema, como acontece em Villa María del Triunfo.

Maiores informações:
http://www.ruaf.org (em inglês)
http://www.ipes.org/au/actividades_proyectos/ccf.html (em espanhol)

La agricultura urbana está cresciendo – entrevistas – Henk de Zeeuw