Uma “bolha” de ar puro no centro de Lisboa

30/03/2010

por Marisa Soares

Os mais distraídos que visitam o Centro Comercial Colombo, em Lisboa, não adivinham que mesmo ali ao lado crescem couves e alfaces viçosas como as que enchem as prateleiras dos supermercados. As hortas da Granja de Baixo e Granja de Cima, em Benfica, resistiram ao interesse da construção, assim como as restantes hortas urbanas que se estendem ao longo de um anel de cerca de sete quilómetros na zona periférica da capital.
No final da tarde, enquanto ainda bate um sol generoso na colina e a luz natural ainda alumia o caminho, encontramos Carlos Reis a plantar bróculos – ou, nas suas palavras, a «entreter-se». «Nascido e criado na agricultura», Carlos Reis trouxe o «bichinho» da horta quando veio da Covilhã para Lisboa, aos 23 anos. Equipado a rigor, com fato-macaco, boné e galochas, o agente da PSP aproveita a folga para cultivar os quadradinhos de terra que ocupa «há seis ou sete anos», altura em que começou a trabalhar para a Câmara Municipal de Lisboa e conheceu «o Mendes», um colega seu. «Foi ele que me trouxe para aqui. Vamo-nos trazendo uns aos outros», explica entre sorrisos.
É assim que os agricultores vão chegando aos grupos quase “comunitários” que ocupam os terrenos, ora camarários (onde, actualmente, pagam uma licença temporária de ocupação), ora disponibilizados por privados (como é o caso da família Canas, proprietária dos terrenos da Granja de Cima).
«Quando alguém desaparece de um grupo, ou porque vai embora ou porque morre, são os restantes membros que decidem quem entra para o seu lugar. Há um direito político de organização», explica Gonçalo Ribeiro Telles, numa visita guiada à horta que ele conhece como a palma das mãos.
Três grupos de agricultores

Os agricultores de Lisboa dividem-se em três grupos principais. O primeiro, composto por trabalhadores ou reformados da Carris, da Guarda Nacional Republicana, da PSP ou da Câmara Municipal, que querem ocupar os tempos livres e ter «produção de qualidade, para eles e para darem aos amigos», continua o arquitecto. Depois, há uma espécie de «direito de posse». «Eles fazem aqui as hortas e juntam-se em comunidades, em função da água de que dispõem, que dá para sete ou oito agricultores», comenta.
Um segundo grupo, que ocupa, por exemplo, as hortas do Bairro do Padre Cruz, engloba agricultores que cultivam para «equilibrarem a alimentação, para consumo próprio e venda», explica Ribeiro Telles. Os emigrantes, particularmente os cabo-verdianos, formam o terceiro grupo, que fez «um trabalho notável» nos taludes que ladeiam a CREL e a CRIL. «Cultivam por necessidade e também porque trouxeram o “vício” de fora», refere.
Hortas são um “analgésico”

A ideia de ver pessoas a passear ali ao lado enquanto trata da horta, nos corredores verdes que a Câmara Municipal pretende construir, é bem vista por Carlos Reis, que defende que «todos deviam poder apreciar este ar puro».

De facto, quem se aproxima dos terrenos entra quase numa outra dimensão, que parece protegida da poluição citadina por uma bolha de ar, que cheira a fresco. A calma do espaço, interrompida apenas pelo ladrar do cão do dono dos terrenos do lado, é quase um analgésico para as dores de cabeça provocadas pelo stress diário. «Ando aqui distraído, não ando a pensar em assuntos de trabalho ou outras coisas que me preocupam», garante.

Quinta da Granja é “bolha” de ar puro no centro de Lisboa – Marisa Soares


Projeto de agricultura urbana de Osasco participa de evento internacional

30/03/2010

O agricultor urbano Genivaldo Silva Xavier está representando Osasco no V Fórum Urbano Mundial (WUF), evento que acontece entre os dias 22 e 26 de março nos armazéns da zona portuária do Rio de Janeiro. O Fórum reúne agentes governamentais, representantes da sociedade civil e do setor privado para debater o tema “O direito à cidade: unindo o urbano dividido”.

Xavier, que é índio da tribo Pankararé, participa do Empreendimento Econômico e Solidário Cantinho Verde, vinculado à Incubadora Pública de Economia Popular e Solidária, da Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão (SDTI), da Prefeitura de Osasco, por meio do Projeto de Agricultura Urbana.

A convite do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, via Secretaria Nacional de Segurança Alimentar (MDS/Sesan), o osasquense participa da sessão “Cidades, Alimentação e Agricultura”, que foi realizada no dia 24.

Para ele, a notícia da participação no Fórum, foi recebida com bastante entusiasmo. “Fiquei muito feliz quando fui informado de que iria viajar para o Rio de Janeiro. Estou ansioso para conhecer pessoas novas e tentar trocar minhas experiências com outros companheiros que também trabalhem com a agricultura. Esta viagem será uma nova oportunidade na minha vida”, disse o agricultor.

Xavier participa do Projeto de Agricultura Urbana desde 2008, e conta que a experiência de se trabalhar em uma horta dentro da cidade é única. “Sempre trabalhei com a terra, mas desde que saí do Nordeste para tentar um emprego em São Paulo, passei por muitas dificuldades. Hoje, faço o que eu gosto e principalmente o que sei de melhor. Prefiro trabalhar com as plantas do que dentro de uma fábrica”, conta.

Agricultura Urbana em Osasco

Criado em 2007, o projeto de Agricultura Urbana foi desenvolvido pela Prefeitura de Osasco, por meio das Secretarias de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão (por meio do programa Osasco Solidária) e do Meio Ambiente, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a Secretaria de Segurança Alimentar e Combate à Fome, o Centro de Pesquisa Publicidade Mokiti OKADA – CPMO e AES Eletropaulo.

O projeto transformou as faixas das linhas de transmissão de energia elétrica da AES Eletropaulo em lugares produtivos. São nestes espaços, antes utilizados como depósito de lixo e entulho, que surgem hortas orgânicas com o uso de tecnologias da agricultura natural, sem agrotóxico, para a produção, beneficiamento e comercialização de produtos orgânicos.

Em um primeiro momento, a colheita é feita para o autoconsumo, visando a segurança alimentar dos integrantes dos grupos, e na seqüência a comercialização dos produtos excedentes. Esta comercialização acontece na própria horta e no ônibus Feira Móvel Solidária (um ônibus adaptado que funciona como uma banca de feira). Este projeto contempla seis áreas de cultivo nos bairros de Vila Canaã, Padroeira, Rochdale e Parque Mazzei, totalizando a participação de 34 agricultores.

A metodologia é desenvolvida por meio dos seguintes temas transversais e seus respectivos parceiros: horticultura orgânica, desenvolvida pelo Centro de Pesquisa Mokiti Okada; segurança alimentar e nutricional, em parceria com o Banco de Alimentos (SICA); educação ambiental (SEMA); e economia solidária, por meio da Incubadora Publica de Economia Popular e Solidária, que também desenvolve o incentivo e a assessoria técnica para a estruturação de empreendimentos econômicos e solidários.

Programação do dia 24/03

– Dr. Yves Cabannes (Professor Development Planning Unit do University College, Londres): Promoção de peri-urbanas e agricultura urbana como parte da luta contra a pobreza e a fome: A Experiência Brasileira
– Patrus Ananias (Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Brasil): Efeitos dos alimentos e da crise econômica sobre a segurança alimentar e nutricional da contribuição urbana pobre e UA
– Dr. Gordon Prain (coordenador do estudo realizado pelo RUAF- Urban Harvest for IDRV e Habitat das Nações Unidas): O papel da agricultura urbana na redução da pobreza e a construção de cidades mais resistentes
– Judy Baker (Economista Principal) e Dr. Dan Hoornenweg (especialista chumbo urbana): Finanças, Economia e Urbanismo do Departamento do Banco Mundial – Multi – stakeholder política de desenvolvimetno e planejamento de programa de agricultura urbana: Experiências da América Latina
– Dr. Juan Izquierdo (planta de produção oficial sênior do Escritório Regional da FAO na América Latina) e Gunther Merzthal (Coordenadora Regional do programa RUAF no IPES, Peru): Plenária Diálogo sobre política e desenvolvimento do programa de agricultura urbana e periurbana como parte de uma estratégia integrada para o desenvolvimento de cidades inclusivas.

Josiane Carvalho
Assessoria de Comunicação
Secretaria de Indústria, Comércio e Abastecimento

Projeto de agricultura urbana de Osasco participa de evento internacional no Rio de Janeiro


Agricultura urbana: plantas medicinais e alimentos

30/03/2010
Mangueiras e jambeiros no quintal, meninos se lambuzam e contam caso
Coentro, pimentão e cebolinha na horta pra lembrar a tradição nordestina
Por destino, não por acaso
Pra reforçar contra a gripe, banana e abacate sem veneno,
Acerola e limão
Mas se resfria não tem jeito
Guaco, cidreira, mel
Cama e carinho de vó para o cansaço
Vou guardar minhas sementes pra passar pros meus amigos
Produzir uma mudinha pra tudo ficar florido
Alegrando o quintal e a nossa vida, encontrando e trocando
Nesse dia-a-dia da cidade, apesar de tão corrido
Denis Monteiro – Agricultor Urbano.

O Rio de Janeiro é o segundo maior município do Brasil em termos populacionais, é majoritariamente urbano, e apresenta graves problemas de insegurança alimentar e nutricional, afetando principalmente comunidades de baixa renda. É nesse contexto que grupos comunitários e pastorais sociais, há dez anos, vêm incentivando o aproveitamento de quintais das casas e outros espaços urbanos para a prática da agricultura, visando melhorar as condições de alimentação e saúde das populações.

Ao utilizar quintais das casas para produzir alimentos, plantas medicinais e ornamentais, as famílias resgatam tradições e vão redesenhando o seu espaço de vida. Dessa forma, locais antes destinados ao descarte de entulhos ou sem utilização, transformam-se em ambientes agradáveis e produtivos: motivo de orgulho para bairros. Os alimentos produzidos sem resíduos tóxicos, a partir de recursos existentes nas próprias comunidades, complementam a alimentação, principalmente com frutas e hortaliças que não seriam consumidas caso não fossem produzidas no próprio quintal. Para as famílias mais pobres essa é, muitas vezes, a única maneira de acessarem esses tipos de alimentos, relegados ao segundo plano, devido ao alto preço ou à dificuldade de acesso via mercados locais.

Em pequenas hortas agroecológicas é possível produzir até 15 kg de verduras e legumes por metro quadrado ao ano, além de frutas em abundância. Um único abacate, por exemplo, pode suprir a metade das necessidades diárias de calorias de um adulto. As famílias produzem alimentos de qualidade nos quintais das casas a um custo muito baixo. Práticas que envolvem crianças demonstram que é muito mais fácil incentivar uma alimentação saudável quando elas também plantam e colhem alimentos.

A produção de plantas medicinais também é bastante significativa, estando presente em quase todos os quintais produtivos. Assim, são preparados remédios caseiros para problemas comuns de saúde, tais como dores de cabeça, resfriados e gripes, doenças de pele, diarreias, entre outras. Preparados de forma caseira ou em grupos de produção organizados, os remédios representam uma economia de mais de 50% em compras de medicamentos para algumas famílias. Muitas relatam a total eliminação do uso de medicação convencional. Além disso, o preparo de remédios caseiros é uma forma de resistência aos apelos e a exploração econômica da indústria farmacêutica.

Os grupos comunitários envolvidos passam a incorporar em seu cotidiano o incentivo à agricultura urbana de maneira participativa. Pouco a pouco, vão sendo tecidas redes locais que funcionam como pontos de suporte à prática. Essas redes incentivam os moradores a utilizarem criativamente os espaços urbanos para a produção, facilitando o acesso a informações, sementes e mudas, e promovendo trocas de experiências e um ambiente de interação social.

A valorização dos conhecimentos e práticas de agricultura urbana e o incentivo à experimentação fortalecem a auto-estima dos moradores da cidade. Os encontros entre agricultoras e agricultores urbanos estimulam o consumo consciente e diversificado, valorizando alimentos produzidos localmente e receitas caseiras tradicionais. Assim, a prática de agricultura urbana torna-se uma ferramenta de mobilização social e de melhoria da qualidade de vida, uma prática alternativa e crítica aos padrões correntes de consumo alimentar.

Marcio Mattos de Mendonça – Engenheiro Agronômo – Coordenador do programa de Agricultura Urbana da AS-PTA.

Fonte: PACS

Agricultura urbana: plantas medicinais e alimentos