Da cidade para o prato

23/10/2010

por Diana Garrido

Entre canteiros feitos com restos de tábuas e sulcos cavados por braços determinados crescem toda a espécie de legumes. Abóboras, tomates, cebolas, feijão, alfaces verdes e roxas, tão brilhantes que parecem de plástico, tremoços, favas e batatas. Há pessegueiros e flores cheias de abelhas, borboletas e toda a espécie de fauna esvoaçante. E por momentos não nos lembramos que estamos no meio da cidade de Lisboa, com calçada portuguesa de um lado e tubos de escape do outro. Na horta popular da Mouraria-Graça (www.horta-popular.blogspot.com) toda a gente é bem-vinda. Inês Clematis, uma artista plástica de 36 anos e impulsionadora do projecto, explica porquê: “Este espaço é de lazer e de descanso. Aqui há partilha de conhecimentos e as pessoas podem conviver. É quase uma terapia.”

E é mesmo. A psicóloga Maria João Matos Silva explicou ao i que dentro das várias correntes da psicologia actuais, “todas estão de acordo em relação aos benefícios do contacto com a terra”. Ou seja, “assim como na criação artística há um processo de sublimação, na criação e na manutenção das hortas também há, ainda que a um nível mais primitivo”. Mexer na terra, plantar alimentos e cuidar deles, para além de dar prazer, “apazigua e permite uma autodescoberta”. Até o hospital psiquiátrico Júlio de Matos foi construído tendo como base a ergoterapia, um processo terapêutico que compreende a ocupação dos doentes, através de trabalhos manuais ou da agricultura.

Convívio de enxada na mão
Para Miguel Morais, 23 anos e licenciado em Sociologia, a agricultura amadora e biológica, é “uma forma de convívio”. Todos os domingos de manhã, o ritual repete-se: Miguel e um núcleo duro de quatro amigos sobem à horta do Monte Abraão, em Queluz, e arregaçam as mangas. Deles dependem as alfaces, as couves, as cebolas, as abóboras, os rabanetes e demais vegetais que há dois anos decidiram plantar num terreno cedido pela câmara. “É divertido. Fazemos experiências de cultura biológica e trocamos conhecimentos. Depois distribuímos entre nós o que colhemos e também oferecemos a outras pessoas. Não é uma forma de subsistência, é mais pela piada da coisa.” A maior dificuldade, assim como na horta da Mouraria – Graça, é a rega. A água é escassa e a câmara, quer de Lisboa, quer de Sintra, não ajuda. “No Verão é preciso muita vontade e persistência para a manter”, conta Inês Clematis.

Horta = trendy
Nos EUA a febre da agricultura já invadiu as cidades e impôs-se como uma tendência. Seja em terrenos seja nos telhados dos arranha-céus: verde é a cor da estação. A dedicação à causa é tão grande que algumas empresas americanas já fabricam vasos para plantar vegetais… de cabeça para baixo. (www.topsygardening.com), para aproveitar melhor o espaço.

Se anda desejoso de pôr as mãos na terra e não tem um terreno, não se preocupe. Se as hortas comunitárias não o entusiasmam, também não há problema. Nenhuma das questões serve de desculpa para fugir à tendência ecoterapêutica: uma varanda é mais que suficiente. Aqui ao lado explicamos como, com quê e quando. Experimente: vai ver que não quer outra coisa. E nada tema, nem é preciso sujar as mãos.

Agricultura urbana: da cidade para o prato – Diana Garrido


Agricultura Urbana – Embrapa

23/10/2010

Documento: Agricultura Urbana

Autores: Altair Toledo Machado e Cynthia Torres de Toledo Machado

Publicação da Embrapa Cerrados, ano 2002.

Link para o download: Agricultura Urbana – Altair Toledo Machado e Cynthia Torres de Toledo Machado – Embrapa