A agricultura urbana está crescendo…

23/11/2009

Com mais de trinta anos de experiência em planejamento e implementação de projetos e programas de desenvolvimento agrícola sustentável na América Latina, Ásia e África, Henk de Zeeuw não é só o diretor da Fundação  RUAF, mas também uma voz autorizada no campo da agricultura urbana. Durante sua visita a Lima como coordenador global do Programa Cidades Cultivando para o Futuro, tivemos oportunidade de conversar com ele sobre o tema.

Como foi que se envolveu com a difusão da agricultura urbana?

Eu era assessor em desenvolvimento rural e na minha experiência, pude ver muitas coisas com as quais não concordava. Por exemplo. na Zâmbia, as províncias pobres que produzem alimentos se encontram muito longe das cidades maiores. Por isso, o milho devia viajar 500 km até a cidade, mas ao chegar, queimavam o milho por pensar que estava contaminado com malária, quando investigações posteriores provavam que não era verdade. Ou seja, a população produzia milho para comer, gastava-se muito com transporte, e o governo não só estava queimando o milho, como também proibia que se plantasse dentro da cidade.  Isso demonstra a importância de que os governos revisem cuidadosamente suas leis e normas para determinar quando é realmente necessário restringir a agricultura urbana, em lugar de ajudar os agricultores e prevenir problemas.

Por quais outras razões as pessoas e governos deviam começar a praticar a agricultura urbana?

Há muitas razões e argumentos para se colocar a agricultura urbana em prática. Há muitas pessoas que vivem famintas nas cidades. A agricultura urbana podia ajudar a aliviar a fome e a pobreza urbana crescente, ao gerar renda. Nas cidades, também existem muitos idosos ou jovens desempregados, ou sem capacitação, que poderiam encontrar na agricultura urbana uma maneira de ganhar a vida.  Por outro lado, as cidades crescem mais e mais, mas muitas só crescem em edifícios quando o que necessitamos é de um ambiente vivo, onde haja verde e que seja parte delas. A agricultura urbana também pode ajudar a manter essas áreas verdes. Obviamente, cada cidade é diferente e terá suas próprias razões  para manter a atividade.

Na sua experiência, porque as práticas de agricultura urbana são tão diferentes ao redor do mundo?

O tipo de agricultura urbana depende bastante da situação local e inclusive dentro de uma mesma cidade pode ser bastante diferente. Por exemplo, na Holanda, que é um país pequeno, toda a agricultura poderia ser chamada urbana, porque se pratica a no máximo 40-50 km das cidades. Porém, numa mesma área temos diferentes tipos de agricultura urbana, com diferentes funções: recreação, produção de alimentos, armazenamento de água, para aproximação com a natureza e para preservar a paisagem. Em outras cidades, como em Villa María del Triunfo, boas terras são escassas, e sem dúvida, as pessoas trabalham-nos e os melhoram para poder produzir alimentos. Realmente é uma atividade que varia muito.

Qual será o futuro da agricultura urbana em um mundo onde o solo e a água tendem a ser tornar cada vez mais escassos?

É interessante, porque durante muito tempo se pensou que pelo fato de as cidades continuarem crescendo, a agricultura desapareceria. Agora sabemos, depois de 200 anos de estudos, que mesmo que as cidades cresçam, a agricultura urbana permanece. Poderá mudar de forma, mas na realidade está crescendo em lugar de desaparecer. É uma atividade necessária para prover lazer, proporcionar alimentos, gerar renda, melhorar a qualidade do ar e para levar o verde para as cidades.

Qual a sua opinião sobre o trabalho do RUAF?

O que se tem feito, por meio do trabalho com diferentes organizações, cidades e municípios, é deixar claro qual a importância da agricultura urbana e como podem incluí-la nos seus programas. Agora há mais cidades onde existem políticas para promover a atividade, sendo que os políticos têm demonstrado grande interesse no tema, como acontece em Villa María del Triunfo.

Maiores informações:
http://www.ruaf.org (em inglês)
http://www.ipes.org/au/actividades_proyectos/ccf.html (em espanhol)

La agricultura urbana está cresciendo – entrevistas – Henk de Zeeuw