Agricultura urbana vertical

02/01/2010

Prevê-se que até 2050 a população mundial aumente, pelo menos, para 8,6 milhares de milhões de pessoas e 80% resida em centros urbanos. Isto implicará, a manterem-se as actuais práticas agrícolas, um acréscimo na ordem dos 109 hectares de novas áreas de terra arável (aproximadamente a área do Brasil) para produzir alimentos suficientes. Contudo, estima-se que actualmente 80% das terras propícias para a agricultura estejam já em uso por todo o mundo, 15% das quais degradadas por más práticas de gestão.

Foi perante este cenário que surgiu o conceito inovador de agricultura vertical, desenvolvido nos EUA, como potencial solução. Ainda em fase de projecto, é uma nova abordagem à produção em espaços fechados (como as estufas), na versão de edifício com vários andares – a quinta vertical. Estes edifícios pretendem-se de construção pouco dispendiosa, de operação duradoura e segura e funcionariam apenas imitando o processo ecológico, reciclando segura e eficazmente toda a matéria orgânica, bem como tratando a água usada nas culturas e transformando-a em água potável.

Dentre os potenciais benefícios associados a uma implementação alargada destes centros de produção alimentar urbanos, destacam-se:
- O fornecimento sustentável e suficiente de alimentos durante o ano inteiro para toda a humanidade num futuro próximo.
- A reconversão de áreas desocupadas do espaço urbano para a produção biológica de alimentos variados e de boa qualidade, permitindo eliminar a grande escala o uso de pesticidas e fertilizantes.
- A reformulação da parceria com as indústrias químicas, no sentido de aferir e responder de forma segura às necessidades de uma grande variedade de espécies comercialmente viáveis de plantas para produção.
- Uma concepção de raiz que permita optimizar os recursos energéticos (redução da energia fóssil utilizada no cômputo geral da agricultura) e reciclar totalmente a água utilizada para rega.
- A preservação dos ecossistemas naturais, por enquanto protegidos das práticas agrícolas, o restauro de actuais ecossistemas afectos à agricultura e a reconversão de grandes áreas a paisagem natural.
- A reciclagem segura e eficaz dos resíduos orgânicos de origem doméstica e agrícola, com produção de energia através do gás metano obtido e a redução significativa de populações de pequenos animais e insectos nocivos à saúde.
- A promoção da qualidade do ambiente urbano e da saúde dos citadinos, com a melhoria da qualidade do ar, maior controlo sobre transmissão de doenças infecciosas e o contributo para uma nova estratégia de conservação de água potável.
- A minimização de prejuízos na produção, associados a factores climáticos.
- A criação de novas oportunidades de emprego.

Para tornar-se realidade, este projecto requer pesquisa adicional em diversas áreas, incentivos económicos e cooperação entre sector privado, universidades e governos locais.

Mais informações

- The Vertical Farm Project (em inglês)
- Redução do impacte da agricultura nas funções e serviços do ecossistema – The Vertical Farm Project

Agricultura urbana vertical


Agricultura urbana na cidade de Rio Branco – Acre

02/01/2010

Resumo: A rápida urbanização dos países subdesenvolvidos e o êxodo campocidade aumentaram a necessidade das cidades de prover emprego e condições de vida adequadas à crescente população. A agricultura urbana e periurbana (AUP) mostra-se como uma atividade viável para a melhoria da qualidade de vida das populações urbanas, principalmente das camadas mais pobres. Rio Branco, capital do estado do Acre, é uma cidade típica da Amazônia brasileira, situada na bacia do rio Acre, cuja formação foi atrelada ao crescimento da extração e comercialização da borracha. Rio Branco apresentou crescimento urbano e populacional acelerado nas ultimas décadas, resultando em falta de planejamento urbano e desigualdades na forma de ocupação dos espaços urbanos. O principal objetivo deste estudo foi elaborar um diagnóstico do uso dos solos na cidade de Rio Branco, com vista ao planejamento de ações públicas que incrementem ou restrinjam formas de uso e maximizem a renda familiar nas condições de solo e ambiente da cidade em estudo. Como hipótese, considerou-se que padrões distintos de uso agrícola do solo urbano em Rio Branco mostram estreita relação com o processo de ocupação da região, com variações culturais dos migrantes que ali se instalaram, e com os tipos de solos. Os solos do estado do Acre, bem como de Rio Branco, apresentam gênese influenciada por sedimentos da Cordilheira dos Andes, e a maior parte possui caráter eutrófico e argila de atividade alta. Foram selecionados três bairros de estudo, distribuídos em toposequência, ao longo do sítio urbano. Dentro de cada bairro selecionaram-se cinco pontos de amostragem, também em toposequência. Nos materiais de solos foram realizadas análises físicas, químicas, mineralógicas e de elementos-traços. Realizou-se o mapeamento de uso e cobertura do solo e das classes de solo, com posterior cruzamento destes mapas, para os três bairros estudados. O bairro de Placas, localizado na parte mais alta e com melhor drenagem, apresentou um parcelamento e uso do solo mais adequados que os bairros Jardim Primavera e Cidade Nova. Esse último bairro apresentou as piores condições de parcelamento e uso do solo, com poucas áreas de vegetação arbórea e grandes áreas impermeabilizadas e em solo exposto. De forma geral, todos os solos ao longo da seqüência altimétrica mostram-se eutróficos e ricos em nutrientes, com exceção de um ponto no bairro Jardim Primavera. Todas as classes de solo são influenciadas pelo lençol freático, ora de forma mais marcante, como nos solos gleicos e flúvicos, ora menos, como nos solos com plintita. Em geral, os solos não apresentaram restrições nutricionais, e mostraram-se aptos ao cultivo agrícola. Em muitos dos pontos amostrados constatou-se aportes antropogênicos, com teores anômalos de P, K, Ca, Mg e alguns micronutrientes, como Fe, Zn e Cu, além da presença de entulhos e dejetos. As maiores restrições ao uso agrícola dos solos urbanos estudados foram: a altura e variação do lençol freático e a fragmentação e uso dos lotes urbanos.

Link para o original: Agricultura urbana na cidade de Rio Branco, Acre: caracterização, espacialização e subsídios ao planejamento urbano


Agricultura urbana

01/01/2010

Por Maria Augusta

Na França, em muitas cidades, principalmente as mais industrializadas, são colocados à disposição das famílias os chamados “Jardins Familiares”. Trata-se de parcelas de terreno pertencendo às prefeituras, geralmente sem valor comercial, que são alugados às famílias por um preço simbólico, para que elas possam cultivá-los (não para morar) por prazer e/ou para enriquecer o dia a dia com os produtos obtidos. Estes devem servir exclusivamente à utilização familiar, sendo proibida a venda ou qualquer tipo de uso comercial. Em geral, a administração e a distribuição das parcelas é assegurada por associações sem finalidade lucrativa.

A iniciativa é antiga, eles existem desde o fim do século XIX , e eram inicialmente chamados “Jardins Operários”. Nesta época tinham finalidade unicamente social, permitindo aos trabalhadores de obter produtos para o próprio sustento. Atualmente, algumas parcelas são usadas para este fim de inserção social, outras simplesmente para permitir às pessoas de fugir do ambiente urbano e plantar para o próprio prazer. Existem também as que são alugadas a grupos de pessoas, para incentivar a comunicação entre vizinhos.

Em geral as parcelas possuem aproximadamente 250 m2, uma cabana e um dispositivo para recolher a água da chuva e são limitadas por cercas. Algumas associações impõem o tipo de construções e instalações das parcelas, outras deixam completa liberdade para a realização das melhorias. Nelas se plantam árvores frutíferas, legumes e alguns fazem criações de galinhas, coelhos ou mesmo de abelhas para obter o mel. Há os que plantam flores, todos os anos acontece o concurso da parcela mais bonita da região. Os inquilinos são orientados para que limitem ao máximo a utilização de pesticidas e para praticar a agricultura bio.

Esta iniciativa não é limitada somente à França, mas vários países como a Inglaterra, a Alemanha, a República Tcheca, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia e outros colocam à disposição da população estes “jardins familiares”, e a procura tem aumentado nos últimos anos, com filas de espera para obtê-los.

Acredito que esta iniciativa seria oportuna no Brasil, nas periferais das grandes ou médias aglomerações, principalmente para enriquecer o dia a dia das classes mais carentes. Será que seria viável no nosso país? Em todo caso, estaria de acordo com os itens “ecológico” e “social” do desenvolvimento sustentável.

Agricultura urbana – Maria Augusta