Agricultura urbana: plantas medicinais e alimentos

Mangueiras e jambeiros no quintal, meninos se lambuzam e contam caso
Coentro, pimentão e cebolinha na horta pra lembrar a tradição nordestina
Por destino, não por acaso
Pra reforçar contra a gripe, banana e abacate sem veneno,
Acerola e limão
Mas se resfria não tem jeito
Guaco, cidreira, mel
Cama e carinho de vó para o cansaço
Vou guardar minhas sementes pra passar pros meus amigos
Produzir uma mudinha pra tudo ficar florido
Alegrando o quintal e a nossa vida, encontrando e trocando
Nesse dia-a-dia da cidade, apesar de tão corrido
Denis Monteiro – Agricultor Urbano.

O Rio de Janeiro é o segundo maior município do Brasil em termos populacionais, é majoritariamente urbano, e apresenta graves problemas de insegurança alimentar e nutricional, afetando principalmente comunidades de baixa renda. É nesse contexto que grupos comunitários e pastorais sociais, há dez anos, vêm incentivando o aproveitamento de quintais das casas e outros espaços urbanos para a prática da agricultura, visando melhorar as condições de alimentação e saúde das populações.

Ao utilizar quintais das casas para produzir alimentos, plantas medicinais e ornamentais, as famílias resgatam tradições e vão redesenhando o seu espaço de vida. Dessa forma, locais antes destinados ao descarte de entulhos ou sem utilização, transformam-se em ambientes agradáveis e produtivos: motivo de orgulho para bairros. Os alimentos produzidos sem resíduos tóxicos, a partir de recursos existentes nas próprias comunidades, complementam a alimentação, principalmente com frutas e hortaliças que não seriam consumidas caso não fossem produzidas no próprio quintal. Para as famílias mais pobres essa é, muitas vezes, a única maneira de acessarem esses tipos de alimentos, relegados ao segundo plano, devido ao alto preço ou à dificuldade de acesso via mercados locais.

Em pequenas hortas agroecológicas é possível produzir até 15 kg de verduras e legumes por metro quadrado ao ano, além de frutas em abundância. Um único abacate, por exemplo, pode suprir a metade das necessidades diárias de calorias de um adulto. As famílias produzem alimentos de qualidade nos quintais das casas a um custo muito baixo. Práticas que envolvem crianças demonstram que é muito mais fácil incentivar uma alimentação saudável quando elas também plantam e colhem alimentos.

A produção de plantas medicinais também é bastante significativa, estando presente em quase todos os quintais produtivos. Assim, são preparados remédios caseiros para problemas comuns de saúde, tais como dores de cabeça, resfriados e gripes, doenças de pele, diarreias, entre outras. Preparados de forma caseira ou em grupos de produção organizados, os remédios representam uma economia de mais de 50% em compras de medicamentos para algumas famílias. Muitas relatam a total eliminação do uso de medicação convencional. Além disso, o preparo de remédios caseiros é uma forma de resistência aos apelos e a exploração econômica da indústria farmacêutica.

Os grupos comunitários envolvidos passam a incorporar em seu cotidiano o incentivo à agricultura urbana de maneira participativa. Pouco a pouco, vão sendo tecidas redes locais que funcionam como pontos de suporte à prática. Essas redes incentivam os moradores a utilizarem criativamente os espaços urbanos para a produção, facilitando o acesso a informações, sementes e mudas, e promovendo trocas de experiências e um ambiente de interação social.

A valorização dos conhecimentos e práticas de agricultura urbana e o incentivo à experimentação fortalecem a auto-estima dos moradores da cidade. Os encontros entre agricultoras e agricultores urbanos estimulam o consumo consciente e diversificado, valorizando alimentos produzidos localmente e receitas caseiras tradicionais. Assim, a prática de agricultura urbana torna-se uma ferramenta de mobilização social e de melhoria da qualidade de vida, uma prática alternativa e crítica aos padrões correntes de consumo alimentar.

Marcio Mattos de Mendonça – Engenheiro Agronômo – Coordenador do programa de Agricultura Urbana da AS-PTA.

Fonte: PACS

Agricultura urbana: plantas medicinais e alimentos

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